sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Refrão de bolero.

     
"Trata-se de uma decepção diferente: não penso obsessivamente, não tenho vontade nenhuma de ligar nem de escrever cartas, não tenho ódio nem vontade de chorar. Em compensação também não tenho vontade de mais nada."       
Caio Fernando Abreu

Pouca vogal, mas muitas palavras que fizeram parte de um registro que hoje já não pertence mais nem à minha lixeira. Algumas poucas fotos que muito foram vistas e que às vezes em momentos mais fragilizados ainda são procuradas estão prestes a serem jogadas fora. Teu rosto, de olhar intenso me faz lembrar atitudes, que demonstravam tanta intensidade quanto esses olhos...  Tudo em ti me completava, tuas vontades, expectativas, desejos, e principalmente teu eu, que era tudo que um dia eu procurei. Provavelmente isso nem passe por tua cabeça.
Tomei cuidado em cada passo, cada gesto, para que nada saísse errado. Apostei todas as minhas fichas ali. Passei por cima de muita coisa que eu sentia para não estragar nada. Hoje talvez eu entenda que esse cuidado excessivo tentou mascarar uma situação perfeita que não poderia existir, pois o que fortalece é o crescimento que se obtêm através dos erros.
Enquanto olhava pra nós dois sentia que eu não estava ali. Sabia que era real, mas no fundo não compreendia o que nos mantinha juntos, além daquele sentimento estranho, mas que era forte, muito forte. Porém saber do teu futuro e compreender a imprecisão dele me gerava certo medo. Sei que nenhum relacionamento é programado, que o futuro não é certo pra ninguém... Mas isso é uma questão da própria incerteza. Só que a certeza era de que futuramente não estaria mais ali.
 Passei muito tempo pensando em como seria a despedida, de como agiria quando nos separássemos que me esqueci de que isso também não tinha uma data pré-definida, apesar de todas as tuas afirmações tão seguras quanto a mim. Ela também se apresentou antes da data marcada, veio de surpresa, deixando marcas e espaços tão grandes e tão profundos que ainda tenho tido dificuldade para a manutenção de todos. Poderia até citar teu nome de tão clara que estou sendo, mas não acho necessário. Caso um dia eu resolva que tu leias, saberás que é sobre ti. Caso um dia leias sem que eu saiba, terás dúvida e tentarás descobrir, mesmo que tudo escrito aqui deixe bem explícito que é sobre ti que eu falo.
O teu dia já não mais conheço e teus planos já são um mistério pra mim. Meu sentimento continua confuso, pois algumas coisas demoram mais tempo que outras pra terem um desfecho mais adequado, pois são trabalhadas minuciosamente pra que não se permita errar coisas iguais. Espero sinceramente que o tempo, o mesmo que irá te levar pra longe em breve, faça com que teu olhar não tenha mais a mesma intensidade para mim, e que teu rosto não me remeta mais ao nosso passado. Espero que as tuas palavras não me doam mais e que eu possa sentir por outra pessoa algo que tenha mais força do que o que lhe dei. Espero não te esperar mais e que não seja necessário ninguém embarcar em nada para que isso aconteça. Prefiro não ter mais que depender dessa tua decisão.


"Amanhã, talvez esse vendaval faça algum sentido
Dá pra se dizer qualquer coisa sobre todo mundo
Por hoje é só, vou deixar passar a ventania
Talvez amanhã, vento, vela e velocidade... "
                                                                                                                    Depois da curva - Pouca Vogal

Um comentário:

Yuri Raskin Pospichil disse...

Enquanto escrevo esse comentário, sinto como se ele fosse a coisa mais desnecessária possível. E talvez até o apague antes que tu o possa ler, até porque ele não acrescenta nada na beleza das tuas linhas, mas achei legal vir aqui escrever alguma coisa.
Pensei em coisas engraçdas, mas seria indelicado, pensei também em alguma coisa profunda, mas soaría idiota e hipócrita.
No fim das contas é inútil comentar alguma coisa sobre essas linhas que parecem mais uma paisagem triste, como um pôr-do-sol.
E assim, como quem vê o sol se despedir no horizonte e torce para que um novo nasça na manhã seguinte, me ponho à apenas contemplar. Quem sabe um dia eu possa nascer no horizonte também.

Escreves lindamente, Aninha!
Parabéns!